domingo, 2 de maio de 2010

ENSINANDO ALUNOS COM AUTISMO – PARTE 1

Referência: TEACHING STUDENTS WITH AUTISM: A RESOURCE GUIDE FOR SCHOOLS – Capítulo 4 – páginas 27 a 31. Material elaborado pelo Ministério da Educação do Canadá. Texto completo disponível em http://www.bced.gov.bc.ca/specialed/docs/autism.pdf. Tradução: Mônica Ximenes (AMA-AL).

Nenhum método é totalmente bem-sucedido com todos os estudantes com autismo. As necessidades dos alunos mudam com o passar do tempo, tornando necessário que os professores tentem outras abordagens.

O capítulo 4 do Guia para Escolas acima referenciado está dividido em cinco seções:
• Abordagens instrucionais
• Estratégias para a gestão da sala de aula
• Estratégias para o desenvolvimento da comunicação
• Estratégias para o ensino de habilidades sociais
• Ensino de habilidades funcionais

Nesta postagem será apresentada a tradução da primeira seção: abordagens instrucionais.

Abordagens Instrucionais

Abordagens Visuais
O método mais recomendado para ensino de estudantes com autismo é a utilização de recursos visuais.  Os alunos com autismo freqüentemente demonstram facilidades com o pensamento concreto, a memorização e a compreensão de relações visuais e espaciais e dificuldades no pensamento abstrato, na cognição social, na comunicação e na atenção. Pictogramas e sugestões por escrito muitas vezes podem ajudar o aluno a aprender a se comunicar e a desenvolver autocontrole.

Uma das vantagens da utilização de recursos visuais é que os alunos podem usá-los durante todo o período em que processam a informação. Ao contrário da informação oral, que é transitória, ou seja, uma vez dita, a mensagem não está mais disponível. Informação oral pode causar problemas para alunos que têm dificuldade de processamento da linguagem e que necessitam de tempo extra para compreensão. Além disso, pode ser difícil para o aluno com autismo atender a informação relevante e bloquear os demais estímulos do ambiente. O uso de suporte visual facilita a concentração do aluno na instrução passada.

Auxílios visuais e símbolos variam em complexidade: do concreto (mais simples) ao abstrato (mais complexo). Este intervalo (continuum) avança da seguinte forma: objeto ou situação real -> fotografia colorida -> figura colorida -> figura preto e branco -> desenhos ou pictogramas -> símbolo gráfico -> linguagem escrita.

Os objetos (concreto) são a forma mais simples de ajuda. Os símbolos gráficos, muito embora pertencentes ao final do continuum em termos de complexidade e abstração, têm sido usados com bastante sucesso junto a alunos com autismo. Existem pacotes de software que fornecem acesso rápido aos símbolos gráficos e à capacidade de criar símbolos personalizados. Suportes visuais podem ser usados de várias maneiras em sala de aula. No entanto, para serem bem sucedidos, eles devem se adequar ao nível de compreensão do aluno e ao continuum de complexidade.

Usar desenhos para apoiar a aprendizagem quando o aluno ainda necessita de fotografias coloridas para compreender, ou seja, está em outro nível do continuum, só vai frustrar ambas as partes.

Suportes visuais são muito úteis e podem ser empregados para:
• organizar horários de atividade diária do aluno, mini-horários, checklists de atividade, calendários, placas de escolha;
• fornecer indicações ou instruções para o aluno em mostrador visual de trabalhos em sala de aula, cartões de arquivo com instruções específicas para tarefas e atividades, pictogramas e instruções escritas para aprendizado de novas informações;
• ajudar o aluno a compreender a organização do ambiente, através da colocação de rótulos em objetos, embalagens, cartazes, listas, tabelas e mensagens;
• apoiar a aquisição de comportamentos adequados, usando regras e representações para sinalizar passos de rotinas;
• ensinar habilidades sociais, usando representações pictóricas de histórias sociais que retratam uma situação social com sugestões e respostas adequadas, desenvolvidas para uma situação específica de um determinado aluno;
• ensinar autocontrole, usando pictogramas que fornecem uma dica para expectativas de comportamento.

A questão-chave ao planejar uma atividade ou dar uma instrução é: como esta informação pode ser apresentada em um formato visual simples? Escolha ajudas visuais com base na compreensão do aluno e nas suas habilidades e respostas.

Outras abordagens

Forneça elogio positivo e preciso enquanto o aluno está aprendendo
Dê aos alunos informação precisa sobre o que eles fazem bem ou corretamente, por exemplo, “excelente colorido” ou "ótima finalização desse problema de matemática". Um elogio generalizado pode resultar na aprendizagem sem entendimento (involuntária) que é difícil reverter. Alunos com autismo podem aprender por tentativas, então, direcionar o elogio a um comportamento muito específico é importante. Por exemplo, “Você está fazendo muito bem a multiplicação destes números”. Aprendizagem supersticiosa pode ocorrer se os alunos, erradamente, conectarem algo que eles estão fazendo com o elogio. Dizer "você está fazendo isto muito bem" quando ele também está balançando os pés enquanto faz a tarefa de matemática pode conectar o balanço dos pés aos elogios gerais.

Use reforços significativos
Reforço pode ser qualquer coisa, variando de elogio a objetos tangíveis, que aumentem o comportamento do aluno para aprender. Alunos com autismo não podem ser motivados por reforços comuns como se faz habitualmente no trabalho com outros estudantes. Eles podem preferir gastar algum tempo sozinho, um tempo para conversar com um membro preferido da equipe, uma ida a uma cafeteria, uma rotina de exercícios (como caminhar), um tempo para brincar com um objeto desejado, música, brincar com água, executar uma rotina favorita, itens que fornecem estimulação sensorial específica, ou sentar à janela.

É importante saber o que funciona como reforço para cada criança. O perfil de preferência que identifica as atividades ou outros reforçadores que são apreciados pelo aluno pode ser útil. Esta lista de gosta "e não gosta" pode ser desenvolvida com a ajuda da família e compartilhada com todos os prestadores de serviços.

Planeje tarefas em um nível de dificuldade adequado
Alunos com autismo podem ser particularmente vulneráveis à ansiedade e à intolerância com os sentimentos de frustração, se não puderem realizar as tarefas atribuídas. Aumentar gradualmente o nível de dificuldade ou apoiar a aprendizagem (em especial com a informação visual ao invés de apenas explicações orais) ajudará a minimizar a frustração do aluno.

Use materiais apropriados à idade
É importante respeitar a dignidade dos alunos com autismo através a escolha de materiais instrucionais. Mesmo que as instruções devam ser modificadas significativamente, os materiais de aprendizagem devem ser adequados à idade do aluno.

Ofereça oportunidades de escolha
Uma vez que os alunos com autismo podem ser freqüentemente frustrados por sua incapacidade de se fazer entender, eles precisam de instruções práticas para fazer escolhas adequadas. Muitas etapas de suas vidas podem ser altamente estruturadas e controladas por adultos. Às vezes, os alunos continuam a escolher uma atividade ou objeto porque eles não sabem como escolher outro.

Métodos de prover escolhas aceitáveis para alunos que têm capacidade limitada para se comunicar necessitam ser desenvolvidas em uma base individual. O ensino direto de fazer escolhas pode ser útil. A escolha deve ser limitada a uma ou duas atividades preferidas até que o aluno apreenda o conceito de escolha. Escolhas abertas não aumentarão a habilidade do aluno em fazer escolhas, ao contrário, podem somente frustrá-lo.

Divida as instruções orais em pequenos passos
Quando estiverem fornecendo instruções para alunos com autismo, os professores devem evitar longas seqüências de informações verbais. O apoio da instrução oral com pistas visuais e representações irá ajudar os alunos a entender.

Preste atenção ao processamento e problemas de estimulação
Alunos com autismo podem precisar de mais tempo para responder que outros alunos. Isso pode estar ligado a dificuldades cognitivas e/ou motoras. Alunos com autismo podem precisar processar cada pedaço da mensagem ou pedido e, portanto, necessitam de tempo extra para responder. Fornecer tempo extra em geral e permitir tempo suficiente entre dar instruções e obter respostas são táticas importantes para apoiar os alunos com autismo.

Use exemplos concretos e atividades manuais
Ensine as idéias abstratas e pensamento conceitual com exemplos específicos e varie os exemplos para que o conceito não seja aprendido acidentalmente como aplicação em apenas um sentido.

Use análise de tarefas
Professores e pais podem precisar dividir tarefas complexas em sub-tarefas e reforçá-las em pequenos e ensináveis passos. Para cada passo de uma tarefa complexa, o aluno precisa ter as habilidades necessárias. Estas sub-habilidades precisam ser ensinadas e reforçadas em seqüência. Por exemplo, para ensinar uma habilidade de auto-cuidado, como escovar os dentes, pode ser necessário dividi-la em sub-habilidades: pegar a escova e o creme dental, abrir a torneira, molhar a escova de dente, retirar a tampa do creme dental, colocar o creme dental na escova etc. Habilidades da vida cotidiana, habilidades sociais e habilidades acadêmicas podem ser analisadas e abordadas como tarefas e sub-tarefas, com cada passo ensinado e, em seguida, ligado ao próximo passo em uma cadeia de sub-tarefas.

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